É emocionante descobrir uma cidade por sua música. O grupo português Orelha Negra entregou ao público em 2010 um primeiro disco homônimo carregado de referências que vão do soul e black americanos até o cancioneiro popular português, passando também pelo Brasil. 

E o Orelha Negra foi uma das bandas mais surpreendentes que conheci por lá. Eu não esperava um som como aquele sendo produzido naquela cidade. A experiência é fruto dos ensaios da banda de apoio do Sam The Kid, mais importante nome do hip hop português e autor de Beats Vol. 1 – Amor, um dos discos portugueses de que mais gosto. Neste disco solo e em alguns outros, o trabalho do Sam The Kid é basicamente de colagens de beats, pequenas gravações, para gerar um disco inteiro. 

O que o tornou tão importante foi trazer beats e vozes conhecidas da cultura popular portuguesa – hip hop com detalhes cantados e falados em português de Portugal. O tal do ip op tuga, que custei a entender que não era uma referência a um tal de e-pop tuga, já que nossos patrícios não pronunciam o h. Até a Maria Bethânia aparece no disco. Já em Orelha Negra, os beats do Samuel também aparecem de forma sistemática, mas apoiados por uma banda tão coesa que fica difícil distinguir o que foi realmente tocado em estúdio e o que não passa de gravação.

A parte visual de Orelha Negra (2010) também se orienta pelo mesmo pressuposto. Desde a foto de divulgação ali no topo (feita por Pedro Claudio), até a capa do disco e de todas as faixas (sim, todas as faixas têm capa) é inevitável reconhecer a homenagem ao universo da cultura do vinil. 

Orelha Negra – Orelha Negra (Portugal, 2010)
Foto e design de Pedro Claudio
Design da logo por Catarina Fuhrmann

Segundo a Wikipédia, “o sleeveface é um fenômeno da Internet na qual uma ou mais pessoas posam para uma fotografia em que se substitui uma parte do corpo por uma capa de um disco de vinil causando uma ilusão”. 

E que outra ideia representaria visualmente as colagens com mais precisão que o sleeveface? A página do Pedro Claudio mostra todas as capas feitas para as treze faixas do disco. Selecionei algumas para mostrar.