Boa parte das fotos de PJ Harvey encontradas em uma pesquisa rápida no google foram feitas por Maria Mochnacz. O site oficial da fotógrafa, por sua vez, tem uma seção inteira dedicada aos seus trabalhos com a artista.
A parceria das duas começou lá em Dry, disco de 1991: era a estreia de PJ na música, e também a primeira vez que Mochnacz fazia um vídeo e uma capa de disco. Em entrevista ao The Guardian, a fotógrafa explica o começo dessa parceria (em tradução livre minha):
“Conheci Polly ao fazer um curso de fotografia em Weston-super-Mare (…). John Parish era meu namorado na época, e ela havia se juntado à sua banda Automatic Dlamini. Polly e eu naturalmente começamos a trabalhar juntas desde o início, fazendo a capa do primeiro single dela e o vídeo da música Dress. Eu nunca tinha feito um vídeo antes, mas Polly parecia acreditar em mim”.
Em um pequeno relato em seu site, a fotógrafa explica que Dress foi feito de maneira totalmente artesanal, com uma câmera Bolex de 16mm. Como só tinham dinheiro para comprar e revelar um total de 12 minutos de filme, algumas partes do vídeo são imagens repetidas ou colocadas de trás pra frente.
Desde então, o trabalho da fotógrafa caminhou de mãos dadas com a carreira de Harvey. Em ambos os casos, sem abrir mão de determinadas características, como explica ao site Rock Archive (em tradução livre):
“(…) Não só produzi suas fotos e vídeos, como também estive envolvida de perto no desenvolvimento de seu estilo ao longo de sua carreira. Minha fotografia tem sido considerada ‘lo-fi com um direcionamento para o fine-art’. Eu uso câmeras de 35mm e câmeras de plástico engraçadinhas cujo resultado é imprevisível. Eu não uso câmeras digitais e [a fotografia] não é um processo instantâneo. Eu amo criar o processo de fotografar pessoas de forma lúdica e colaborativa”.
Ao brincar com todos os tipos de câmeras analógicas, Mochnacz construiu um banco de imagens de PJ focado em retratos que exploram a tamanha expressividade da cantora.
Toda essa expressividade também salta aos olhos no vídeo. Outra situação em que Mochnacz conseguiu captar tudo foi no vídeo de Man-size, como ela conta em seu site (tradução livre):
Esse foi uma espécie de vídeo anti-pop. Nessa época eu trabalhava num bar em Bristol, onde passava MTV o dia todo. Como ficava presa naquele balcão, não tinha como escapar daquilo. Uma noite eu pensei que como tudo era tão claro e colorido e dinâmico, se você faz algo em preto e branco com a câmera parada, ia se destacar. E eu disse à Polly que todo mundo sabe que, quando se faz um vídeo, o cantor dubla a música, então por que você não vai lá e canta quando tiver com vontade e não canta quando não quiser cantar?
Sua foto mais emblemática e provavelmente a mais famosa (é a que está no topo do post) deu origem à capa de Rid of Me, segundo disco de Harvey. Em entrevista ao Guardian, a fotógrafa explica (tradução livre):
Esta é a [foto] que as pessoas costumam reconhecer. Era a capa de Rid of Me, o segundo álbum de Polly, e foi tirada no meu banheiro em Bristol. Eu sabia que queria fazer a água no cabelo de Polly parecer uma escultura estranha, quase sólida. Eu tirei a foto na escuridão total, com um pequeno flash. Minha câmera estava encostada na parede oposta daquele pequeno banheiro sem nenhum espaço para que eu olhasse pelo visor. Tive de dizer à Polly para onde ela deveria tentar direcionar seu olhar. Meu colega de apartamento na época estava batendo na porta, desesperado para usar a privada, e eu tive de gritar para ele aguentar, estávamos fazendo arte!
Segundo o artigo do disco na Wikipédia, a gravadora Island Records recebeu a imagem e Mochnacz foi informada que as ~imperfeições da foto~, como as gotas de água na parede e a planta no canto direito, poderiam ser removidas. Ela protestou contra esta decisão dizendo que era pra ser assim, que tudo aquilo fazia parte da foto. A fonte desta informação é o próprio site de Mochnacz, mas mesmo depois de passar horas fuçando, não achei por lá.
Escolhi algumas das capas de discos cheios mais emblemáticas de Maria Mochnacz para PJ Harvey:
Não é disco cheio, mas ficou famosinha pelo suvaco cabeludo antes de ser ~cool.
Tirando os ótimos relatos do seu portfólio e umas poucas entrevistas, a presença de Mochnacz em redes sociais é nula. Se não fossem umas fotos dessa fase mais recente de PJ (Let England Shake e The Hope Six Demolition Project), nem daria pra saber se ela estava viva 🙂
Além da longa estrada ao lado de Mochnacz, outra parceria do formato “desde sempre” é com o designer Rob Crane. O diretor criativo a acompanha desde Rid of Me, segundo disco da cantora, e assina o design de todas as capas postadas aqui.